sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Cabo Armando Veiga Marques um herói de verdade!,


A Guerra - Tensão no Campo de Batalha

Porto-alegrense, o cabo Armando Veiga Marques resume um sentimento comum a todos os pracinhas: - "Montese foi a batalha mais difícil". Ao travar uma luta em área urbana pela primeira vez desde a chegada à Itália, a Força Expedicionária Brasileira teve 400 baixas, entre mortos e feridos. O cabo Marques estava lá. - "Entramos queimando. Tomamos Montese casa por casa", diz. Aos 82 anos, ele lembra as dificuldades de um enfrentamento que durou quatro dias. Mas o pior viria depois. Com a vitória em Montese, o 6º Regimento de Infantaria, do qual Marques fazia parte, prosseguiu em direção ao norte. Em 27 de abril, o cabo "puxava" a companhia (avançando à frente do grupo) em Neviano di Rossi, nas proximidades de Fornovo. Ao cruzar com um grupo de reconhecimento, foi advertido da presença de um carro blindado alemão nas proximidades: - "Coloquei meu pessoal em posição e avancei com cautela". Havia uma plantação de trigo às margens da estrada. Marques avançou rastejando. Instantes depois, os alemães abriram fogo. Um brasileiro foi ferido e levado para a retaguarda.

- "Minha mochila ficou toda perfurada. As mantas que eu carregava viraram tela". Até mesmo a arma do pracinha foi atingida pelas balas alemãs mas, com as precauções que havia tomado, a tropa conseguiu manter a posição. Os alemães renderam-se dois dias depois. Marques recebeu a Cruz de Combate de 1ª Classe, mas, apesar do reconhecimento pelo ato de bravura, ainda luta na Justiça para receber a pensão paga pela União aos ex-combatentes.

A tomada de Montese ocorreu cerca de dois meses depois de os pracinhas protagonizarem a primeira grande vitória da FEB na II Guerra - o ataque a Monte Castelo. Segundo-sargento, Tadeu Cerski participou do terceiro ataque à região, apenas 16 dias depois do seu batismo de fogo. Era madrugada de 12 de dezembro de 1944. Eles sabiam que surpreender o inimigo seria fundamental. Na hora combinada, avançaram. Os pracinhas marchavam às cegas. O terreno, coberto de lama, era bastante irregular, e os termômetros marcavam 20º negativos. A chuva havia oferecido uma trégua aos combatentes. De repente, a artilharia americana começou a disparar em Belvedere, a leste dali, quebrando o sigilo da operação: - "No clarear do dia, nosso pelotão estava na frente, dando sopa para o inimigo. Foi uma chacina. Dos 41 do meu pelotão, 12 morreram. Não foi fácil presenciar isso". As relações com os americanos estremeceram. Eles afirmaram querer ajudar os brasileiros, desviando a atenção dos alemães para Belvedere. - "Mas, na prática, a artilharia acordou os alemães, que ficaram a nossa espera. Não dava para conter a raiva", diz. O pelotão de Cerski atraiu o fogo inimigo uma vez mais. Foi no ataque derradeiro a Monte Castelo, em fevereiro de 1945.

O Pós-Guerra: Uma nova luta, no retorno para casa

Entre os pracinhas para os quais as glórias do pós-guerra se resumiram a algumas horas de festa se inclui o gaúcho João Pedro Paz, hoje com 80 anos. De volta a Porto Alegre depois de sete meses de campanha na Itália, ele deixou o Exército, teve de lavar pratos em um dos mais famosos hotéis da Capital na época, o Grande Hotel, e até dormiu em banco de praça. Amargava tempos mais difíceis do que na guerra quando recebeu uma carta. Era da italiana Iole Tredici, dando-lhe a notícia de que seria pai. Iole e Paz se conheceram em um sábado, 9 de maio de 1945. O gaúcho, integrante da divisão de infantaria estacionada em Stafoli, ganhou folga e foi a Pescia, cidade pequena da região da Toscana. Em um baile, viu a italiana. - "É destino. A gente se olhou e não se largou mais", conta Iole, na época com 17 anos. Só que o contato entre os dois durou pouco. Em 6 de julho de 1945, Paz pisou pela segunda vez no navio de transporte americano General Meigs. Estava voltando para casa. No Brasil, o jovem soldado resolveu desistir da carreira militar, descontente que ficou com a proposta do Exército para os que retornavam da guerra. Voltou a Porto Alegre sem trabalho, nem dinheiro. Na Itália, a inexperiência fez com que passasse bastante tempo até Iole perceber que estava grávida. Quando soube, a mãe da italiana chorou. O irmão não falou com Iole por quatro dias. Por carta, Paz e Iole decidiram que aquele era um romance que deveria transcender a guerra. Casaram-se por procuração. Mas a cerimônia civil era pouco para contentar os sonhos de Iole. Mesmo sem a presença do noivo, ela se casou no religioso.
- "Minha mãe subiu no altar. Colocou uma aliança de prata no seu dedo. Quando o padre perguntou se João Pedro Paz aceitava Iole Tredici em casamento, foi ela quem disse o sim". O filho, Pedrinho, nasceu na Itália. Tinha três meses quando embarcou com a mãe para uma viagem de um mês que os traria ao Brasil. Desde 28 de outubro de 1946, Iole e Paz estão juntos. Pedrinho morreu aos 12 anos. O casal teve mais uma filha. Paz nunca mais viveu o dia-a-dia de um militar, mas não esquece sua trajetória na FEB. Diz que a II Guerra foi uma passagem dolorosa, mas emenda: acha que sua história ainda renderá um filme.

Memórias do Front II - Letícia Sander e Poti Silveira Campos - Texto e fotos da página encontrados no site http://www.defesanet.com.br/

Um comentário:

  1. Ontem eu conheci e cumprimentei o casal desta fantástica história de amor. Em Caçapava/SP, onde foram homenageados. Que emoção.

    JOSÉ OUVERNEY - Pindamonhangaba

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